
O debate “Crise da democracia brasileira e os impactos sobre a Universidade” reuniu a comunidade acadêmica da UFBA no Salão Nobre da Reitoria, na manhã da última quarta-feira (17). A atividade, promovida pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), marcou o início do semestre letivo 2025.2.
Na fala de abertura, o reitor Paulo Miguez relembrou que, ao longo dos anos, especialmente a partir de 2016, a UFBA tem respondido aos desafios impostos à democracia. Ele destacou que a presença expressiva do público no evento reflete o interesse da comunidade acadêmica pelo tema. “A Universidade Federal da Bahia tem cumprido o seu dever de ser uma instituição que está preocupada com a formação de cidadãos e com a defesa da democracia”, frisou.
Em seguida, o professor Armando Boito Júnior (Unicamp) apresentou uma exposição baseada no livro “Instabilidade e crise na política brasileira”, organizado em parceria com os professores Danilo Martuscelli (Universidade Federal de Uberlândia) e Nátaly Guilmo (Technische Universität Berlin). Durante sua fala, Boito abordou o período de instabilidade e de crises políticas iniciado em 2015, com as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff. “A primeira coisa que temos de fazer é entender que a política é uma das dimensões da vida social, e está vinculada a todas as demais dimensões de maneira indissolúvel. E ao fazermos isso, veremos ter a explicação para o ingresso nessa fase de instabilidade e de crise política”, afirmou.
O professor também destacou que os conflitos distributivos não são apenas entre as classes, mas entre suas diferentes frações. “Quando consideramos esse fator, nós não devemos ter uma concepção simplificada de tal conflito. Você tem que considerar o conflito distributivo de classe na sua diversidade, na sua multipolaridade”, defendeu Boito Júnior.
Na sequência, o professor Luiz Filgueiras (Faculdade de Economia) refletiu sobre os desafios da democracia brasileira, que, segundo ele, enfrenta dois inimigos fundamentais: o neoliberalismo e a extrema direita neofascista, conceitos também abordados por Boito. Ele é categórico ao afirmar que “todas as mazelas que nós conhecemos do neoliberalismo e das políticas para o capital financeiro abriram as portas para o neofascismo”.
Os impactos da crise democrática sobre as universidades foram discutidos pelo ex-reitor João Carlos Salles, que ressaltou o papel da universidade como uma instituição comprometida com o conhecimento. “Diante das instabilidades e das crises, nós temos que lembrar que a universidade é talvez uma das promessas e apostas mais estáveis da sociedade. É uma aposta no conhecimento e nos valores da formação”, afirmou.
Salles também lembrou que os ataques à autonomia universitária se intensificaram a partir de cortes orçamentários. “De 2014 em diante, nós sofremos uma forma de ataque à autonomia das universidades, que foi a redução orçamentária, ainda não recomposta. E isso é uma situação pavorosa no conjunto dos sistemas das universidades federais, que dependem de financiamento”, lamentou.
A professora Maria Rosário de Carvalho (FFCH/UFBA) trouxe à discussão reflexões sobre sua trajetória na universidade, abordando a importância de compreender o ambiente acadêmico como um espaço de inclusão. Ela observou que “o modo como pensamos deve ser constantemente desconstruído com as presenças dos indígenas, negros, comunitários de modo geral, quilombolas”.
A mediação do evento foi conduzida pelo diretor da FFCH, Marcelo Melo, e pela coordenadora do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), Jamile Borges, que destacaram a importância de pensar as universidades públicas como espaços de inclusão, debate e promoção da democracia.