
Criada em 1981, a Companhia de Teatro da UFBA, que acumula dezenas de produções de sucesso, volta a cartaz com sua 59ª montagem: a comédia Homem é Homem, texto do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898 – 1956), com encenação de Caio Rodrigo e Pedro Benevides. Indicada em quatro categorias da última edição do Prêmio Bahia Aplaude - Espetáculo, Direção, Ator e Especial -, a peça debate com humor e crítica as formas de alienação, autoritarismo e manipulação social. As apresentações são de 03 a 26 de outubro (de sexta a domingo), às 19h30, no Teatro Martim Gonçalves (Canela). Entrada gratuita. Senhas começam a ser distribuídas na bilheteria uma hora antes do espetáculo. Além das apresentações do espetáculo, a programação inclui cinco oficinas gratuitas com grandes mestres das artes cênicas da Bahia.
Homem é Homem reúne nomes experientes e bem conhecidos do Teatro Baiano, como Hebe Alves e Lúcio Tranchesi, e uma nova geração de atores da Escola de Teatro da UFBA, integrando diferentes experiências. A montagem, que também é um projeto de extensão acadêmica, resulta numa troca constante entre elenco e equipe nos bastidores, onde todos ganham: equipe do espetáculo e, principalmente, o público.
Sobre o processo compartilhado e colaborativo da encenação, os diretores entendem que essa parceria é um constante diálogo, incluindo contradições que resultam em sínteses que, talvez, somente um deles não conseguisse alcançar separadamente. “Isso torna o processo vivo e rico em ideias. Acreditamos que, aliando conhecimento técnico e vigor criativo, conseguimos fazer frente aos desafios da nossa montagem”, concordam Caio e Pedro.
Escrita e reescrita ao longo de mais de três décadas - a versão final da peça Homem é Homem (do título original “Mann ist Mann) foi publicada em 1953, após diversas adaptações de contexto histórico, político e social. No enredo, a inusitada história de um estivador chamado Galy Gay, interpretado pelo ator Lúcio Tranchesi, personagem esta que sai de casa para comprar um peixe e, entre outras reviravoltas, acaba por assumir a personalidade de um soldado que é incorporado à guerra, no exército colonial inglês, porque, como já prenuncia a trama: “não sabe dizer não”. Nessa jornada, o público acompanha a morte simbólica da personagem para o nascimento de outra, com direito a enterro e novo documento de identidade.
“O texto resgata o momento que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Não são meras coincidências. Há poucos anos o governo brasileiro fomentou o sentimento de um estado militar e bélico para os civis. Temos sinais de uma possível terceira guerra, em que poderemos ser tragados, existem interesses globais neste sentido. Brecht exibe esses interesses na dramaturgia e nossa montagem encara também essa situação”, reflete Pedro Benevides.
A encenação de Caio Rodrigo e Pedro Benevides ressalta a reflexão da peça sobre a ilusão criada pelo mercado de trabalho, ao propagar a possibilidade de ascensão social ao alcance de todos, através do empreendedorismo. E o questionamento que, sem consciência de sua própria realidade e do meio onde vive, um homem pode ser facilmente substituído por outro. Nessa perspectiva, propõe pensar sobre uma educação que seja capaz de oferecer às pessoas caminhos para entender e intervir nessas estruturas, numa participação mais consciente e coletiva nos processos de transformação. Além disso, investe em detalhes que reforçam a atualidade do texto, mantendo a estratégia de Brecht, quando busca se distanciar do cenário onde ocorre a narrativa, para que essa associação possa ser feita com certa liberdade pelo público.
“O contexto político devolve à encenação o sentido de uma alegoria da guerra cultural, apontando as consequências da razão instrumental que é, ao mesmo tempo, causa e efeito das tendências totalitárias. A situação da peça nos remete a um traço tragicômico. Ao mesmo tempo que dizemos não ser possível um determinado acontecimento, aquilo que julgamos não ser possível, acontece”, constata Caio Rodrigo.
Celebrando a tradição de montagens do autor alemão na cidade de Salvador, o projeto Brecht é Coisa Nossa contempla também atividades formativas gratuitas em diferentes espaços culturais da capital. Além do Teatro Martim Gonçalves, no Espaço Boca de Brasa Centro, Espaço Boca de Brasa Subúrbio 360 e na Casa Preta Espaço de Cultura. No total, são quatro oficinas gratuitas: Práxis Teatral e suas Raízes Visuais: Estratégias de Composição da Iluminação do Espetáculo “Homem é Homem”, de Bertolt Brecht (com Eduardo Tudella e Pedro Benevides, Espaço Boca de Brasa Subúrbio 360 – dia 06/10); Elocuções em Trânsito: Dinâmicas da Voz para uma Atriz Narradora (com Hebe Alves, no Teatro Martim Gonçalves dia 13/10); Entre o Ator e a Personagem (orientada por Lúcio Tranchesi, no Espaço Boca de Brasa Centro – 21/10); (DES)MONTAGEM: estratégias de encenação e direção de elenco no espetáculo Homem é Homem (com Caio Rodrigo, na Casa Preta Espaço de Cultura - 27/10). As inscrições serão gratuitas e on-line. Entre setembro e outubro/2025 serão divulgadas através do instagram: @teatroterceiramargem.
Mais informações no instagram @teatroterceiramargem
EQUIPE TÉCNICA
Direção Geral: Caio Rodrigo e Pedro Benevides
Elenco: Bira Freitas, Cícero Locija, Felipe Viguini, Gordo Neto, Hebe Alves, Jamile Dionísia Ferreira, João Victor Sobral, Kadu Lima, Lúcio Tranchesi, Maribá, Michel Santana e Sara Lima.
Direção Musical: Luciano Salvador Bahia
Arranjos musicais: Caio Rodrigo, João Victor Sobral e Luciano Salvador Bahia
Músico: Guiguiu
Operação de som: Álvaro
Cenografia: Caio Rodrigo e Pedro Benevides
Arte Designer: João Victor e Gordo Neto
Assistência de cenografia: Thays do Valle
Arte pintura: Luís Parras
Iluminação: Eduardo Tudella
Operador de Luz: André Oliveira
Produção Executiva: Maria Clara Cardozo
Figurinista: Hamilton Lima e Thiago Arrain
Costureiras: Marcia Cardoso, Graça Calanzans e Saraí Reis
Produção e assistência de figurino: Thiago Arrain